14 abril 2024

ABSTENÇÃO FATAL

 

A prova provada da negação existencial.

A líder parlamentar Alexandra Leitão afirma: “O PS, através do seu secretário-geral, já tinha dito que nesta primeira fase não iria bloquear o início de funções do Governo e portanto irá viabilizar o Programa do Governo, abstendo-se nas moções de rejeição",

O Partido Socialista abstém-se depois de criticar "violentamente" o programa do Governo. 

O Partido Socialista abstém-se e vai ”deixar trabalhar” o Governo da Direita.

O Partido Socialista vota, na prática, contra a Esquerda que, muito naturalmente, não pode deixar passar medidas prejudiciais, em alguns casos fatais, aos trabalhadores.

Pedro Nuno Santos (PNS) dá a machadada final na maioria dos eleitores que nele confiaram um voto, quer de convicção, quer de "crença" de que o PS defendesse os seus legítimos interesses.

PNS iludiu alguma Esquerda, provavelmente convencida que desta vez é que ia ser.

Ao abster-se, PNS deu a entender que, não só daria a mão a Montenegro, como ainda caucionaria medidas, ainda que avulsas, do governo da Direita.

Ao abster-se, PNS violenta toda a Esquerda. É uma traição à Esquerda.  É, mais uma vez, a traição aos trabalhadores.

Que será que PNS vê de positivo neste Governo? Provavelmente a continuidade das políticas vergonhosas de submissão à NATO e à UE, protagonizadas por Cravinho e que vão ser continuadas por Rangel? A obsessão com a "defesa", cujas verbas superaram as da Habitação, em 2023? 

Se assim for, vai muito bem este PS...

Quando precisávamos de um não rotundo à Direita, temos um "nim", que aliás é uma das "virtudes" do PS.

Mas PNS veio dizer que as medidas do Governo relativas aos impostos são “um choque de desfaçatez e de embuste”. Então em que ficamos?

O PS desirmanou-se da Esquerda e continua a caucionar a agenda neoliberal e fica agora amarrado à Direita. 

O PS não sabe o que fazer e, como não sabe, acaba preso à sua própria retórica que lhe valeu a perda de 40 deputados e uma quebra percentual de 14%.

Para onde vai este PS???


 O PARTIDO SOCIALISTA É A MULETA DA DIREITA

O Partido Socialista prepara-se para “deixar passar” o programa de governo da Direita. Aliás, essa atitude é por aquela interpretada como um “apoio” ao seu programa. Ou seja, se não vota contra é porque nos apoia. Muito bem.

Que razões podem levar o PS para tomar esta atitude, quando até o seu Secretário-Geral zurze de cima a baixo (e bem) no dito programa?

O que fica no final são as palavras de Pedo Nuno Santos (PNS) e que constam da última parte da sua primeira intervenção, logo após a apresentação feita por Luís Montenegro (LM): pode contar connosco para defender o estado social, pode contar connosco para defender a europa e pode contar também connosco nas questões da defesa. 

Mais ou menos isto.

Já agora, parece que a abstenção do PS, admite e cauciona as propostas de política fiscal vergonhosas e desastrosas do PPD/PSD-CDS, que quer baixar impostos às fortunas e às grandes empresas.

Não, não é um pesadelo. O PS vai proporcionar, por via da sua abstenção, que a Direita cumpra o seu programa. E o mais ridículo é que o PS parece acreditar no “não-é-não” de LM e na sua verborreia direitista. Que ficou bem comprovada na “cerimónia” do logotipo e do apoio, mais ou menos declarado, ao repugnante livro de “uma vintena de beatos grisalhos que fez um tratado pela família tradicional”, como bem afirmou a Ana Matos Fernandes, mais conhecida como Capicua

O PS prova uma vez mais, se necessário fora, que está ao lado do Capital e que, mais uma vez, se preparar para trair os trabalhadores, trair as suas causas e os seus interesses. 

Nada que nos admire, ponto.

Esta seria, repito seria, uma óptima oportunidade para PNS provar que é um homem de Esquerda. A atitude que vai tomar, ou que vai proporcionar, deita por terra o seu próprio património.

Depois de ter aberto a porta à extrema-direita, com as suas medidas demagógicas e que promoveram o descontentamento e a desilusão dos trabalhadores, o PS vai agora dar a mão à Direita.

O PS é mesmo a muleta da Direita!


04 abril 2024

 NATO - 75 ANOS DE AGRESSÃO À LIBERDADE

 

Foi assinado em 4 de Abril de 1949, o chamado Tratado do Atlântico Norte. Foi apresentado como um “acordo de sistema de defesa coletiva, em que os 12 estados-membros fundadores (onde se incluía Portugal) se comprometeram com a defesa mútua em resposta a ataques externos”. É curiosa a forma como a NATO se vê a si própria. No seu site internet, diz-se que a “segurança no nosso quotidiano é fundamental para o nosso bem-estar” e que o seu objectivo “passa por garantir a liberdade e segurança dos seus membros através de meios políticos e militares.” Diz-se ainda que a NATO “promove valores democráticos e promove entre os seus membros a consulta e a cooperação em matérias relacionadas com a defesa e segurança com vista a resolver problemas, desenvolver confiança e, a longo prazo, evitar conflitos.” E finalmente “A NATO está empenhada na resolução pacífica de litígios...”.

 

Não deixa de ser surpreendente este fraseado. Não há (nunca houve, aliás) necessidade em poupar adjectivos sobre este Tratado, pérfido e mentiroso A NATO mostrou, logo na sua fundação, ao que vinha, apesar da retórica. As suas sucessivas intervenções, em todo o Mundo são a face visível de um instrumento de guerra, em defesa, não de nada em concreto que não seja a do imperialismo americano e da agressão indiscriminada, para impor a lei e a ordem de um império que, só mesmo pela força das armas, se mantém. Mas as intervenções militares da NATO estão plenas de crimes, muitas têm sido as denúncias, que nunca chegam a ser provadas, apenas porque quem os julga está ao serviço de quem os comete.

 

Não deixa também e ser curioso o facto de quando se faz um pesquisa relacionada com a NATO, apenas consta a verborreia armamentista e a defesa da guerra, sempre focalizada nos interesses americanos e dos designados “aliados” ocidentais. É muito difícil, por exemplo, encontrar relatórios e outra documentação fiável sobre os crimes da NATO. Ou mesmo sobre uma provável “legitimidade” de algumas das intervenções. Diz a NATO que, “Com o fim da Guerra Fria, a Aliança assumiu novas tarefas fundamentais, incluindo a formação de parcerias de segurança com várias democracias da Europa, do Cáucaso e da Ásia Central. Em resposta às mudanças no ambiente de segurança geral, a Aliança assumiu novas responsabilidades. Estas incluem o enfrentar tanto a instabilidade provocada por conflitos regionais e étnicos na Europa como ameaças com origem fora da área euro-atlântica". Traduzindo para português corrente, encontramos a realidade dos factos. As “parcerias de segurança” significaram na prática, as alianças para agressão da Bósnia e Herzegovina, para a desastrada e criminosa intervenção no Kosovo, para as guerras, de agressão gratuita, provocadas no Afeganistão, Iraque e Líbia. E ainda, todas as intervenções na América Latina e do Sul, sempre contra os movimentos de libertação e de defesa dos trabalhadores. A retórica do “...enfrentar tanto a instabilidade provocada por conflitos regionais e étnicos na Europa como ameaças com origem fora da área euro-atlântica”, traduz-se basicamente no primeiro objectivo estratégico americano em provocar a Rússia, cercada desde há duas décadas, por exércitos à sua porta, que a acabaram por levar a invadir a Ucrânia, um acto simplesmente indefensável, todavia provocado por uma ameaça real.

 

Para a NATO impõe-se hoje, em pleno século XXI, “...enfrentar de forma activa os novos desafios da segurança do século, como os representados pelo terrorismo internacional e a proliferação das armas de destruição maciça.”. Na verdade, sabe-se o que isto quer dizer, estando ainda por encontrar as tais armas, que os algozes referiam existir, para justificar a invasão e destruição do Iraque. Na verdade, a posição imperialista que representou a expansão da NATO para o Leste, baseou-se numa premissa sem qualquer sentido, a saber, a velha tese que defende que a Rússia iria tentar uma invasão imperial para toda a Europa não é mais que a ideia anti-comunista dos anos de ferro, como se o regime actual russo tivesse algum coisa a ver com a União Soviética dos primeiros anos da Revolução. Atente-se mais uma vez nos factos: a dissolução do Pacto de Varsóvia, em 1991, deveria ter sido acompanhada pela dissolução da NATO, mas o que se passou foi precisamente o contrário, a NATO cavalgou para todo o lado.

 

E aqui reside a questão principal, que é, sem qualquer espécie de dúvida, a falsificação completa da História, para afinal legitimar o reforço e alargamento de um bloco político-militar agressivo, impulsionar a corrida aos armamentos e a estratégia de confrontação e de guerra. Aliás, as sucessivas “crises” do capitalismo, particularmente na sua versão neoliberal necessitam sobretudo de confrontação e de guerra, para justificar o fracasso do sistema. Essa natureza implica o ataque a todas as tentativas de libertação dos povos do jugo colonial, por todo o Mundo. A NATO, os imperialistas norte-americanos e todos os seus lacaios, particularmente ingleses e os “aliados” da designada “união europeia”, representam hoje o perigo número um, à escala mundial: a agressão indiscriminada a tudo o que seja considerado lesivo dos interesses do dinheiro e da finança. E, a esse propósito, o Secretário-Geral da NATO, afirmou, em 2022, no relatório final da convenção realizada em Madrid, que “...as ambições e políticas coercivas da China desafiam os nossos interesses, segurança e valores”. Que “nossos” interesses? Precisamente, os interesses dos EUA e, por arrastamento, os da dita “união europeia”, que é melhor exemplo de dedicação canina ao patrão americano. Na sua última obra publicada, o Coronel Matos Gomes, afirma que a NATO não é aliança alguma, mas sim uma poderosa empresa multinacional americana, com delegações e agências na Europa, o que confere a esta o estatuto de colónia americana.

 

Recordamos os tempos da Revolução, no ano em que comemoramos os 50 anos de Abril. Aí se reclamou, desde o início, o fim da NATO e que esta ficasse fora de Portugal. A única atitude decente que se impõe, seguindo o rasto de sangue que aquela organização tem deixado por toda a parte, é voltar a levantar a voz contra a guerra, contra o imperialismo e pela Paz. Que ela possa ser construída aqui na Europa e em todo o mundo, denunciando os crimes da NATO e pugnando pela colaboração pacífica entre os Estados, com base nos princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.


18 março 2024

O MELHOR ATAQUE É A DEFESA

 

Pois, no jargão futebolístico, a asserção é dita às avessas.

No futebol, parte-se do princípio que, ao ataque, a equipa terá mais probabilidades de se defender, mesmo que tenha menos força, poderá marcar um golo fortuito e atrapalhar o adversário.

Na arena política, onde o relvado é altamente flutuante e, tal como no estádio, por vezes escorregadio, parece que jogar permanentemente ao ataque, gastando e exaurindo todos os recursos ao mesmo tempo, significa esmagar e destruir o adversário. Veja-se o caso da Faixa de Gaza, onde o atacante e ocupante antigo só não conseguiu destruir completamente os palestinianos, porque existe uma resistência feroz de quem apenas tem paus e pedras para combater o inimigo. 

Hoje, na política, parece prevalecer a tal questão existencial, uma invenção da ultra-direita, desgraçadamente generalizada.

 

A propósito de “defesa nacional” se fez hoje mais um fórum da TSF, onde o mais interessante foi constatar que os “representantes” do Partido Socialista e do partido racista, xenófobo e neo-fascista disseram, sobre a matéria, praticamente o mesmo. A ideia abstrusa de que a guerra é uma “causa” da Ucrânia e de todos os europeus (consequentemente de todos os portugueses) pela liberdade e pela democracia, esbarra todos os dias na realidade concreta. Na verdade, a causa é a guerra pela guerra, que traz um sacrifício imenso aos cidadãos europeus, particularmente aos trabalhadores, para pagar (de todas as formas) o desvario armamentista e imperialista americano e dos joguetes paus-mandados europeus.

Se dermos o exemplo das munições da França que custam 6 mil euro e foram vendidas por 190 mil, talvez tenhamos a resposta adequada.

Se atentarmos à manipulação grosseira do Ocidente, que quer mascarar a realidade da ideia da dominação económica e mental com a mentira generalizada do que é esta guerra, começada e activada pelo Ocidente e que quis, durante 2 décadas, cercar e intimidar a Rússia, promovendo as mais descaradas iniciativas de armar, do lado de cá, até aos dentes, as suas fronteiras, talvez encontremos hoje as verdadeiras razões do estado actual. 

Se conseguirmos, dentro da ameaça e prática de uma política de cancelamento de tudo quanto é russo, da notícia ao comentário, na arte e no desporto, até à perseguição e intimidação de quem simplesmente quer alertar para a dúvida, temos a resposta exacta ao que significa o exercício do livre pensamento.

 

Na Rússia, onde foram conhecidos os resultados das eleições, não vimos qualquer referência aos números, a não ser para dizer que Putin venceu de forma ilegal, que o reforço do voto electrónico serviu para manipular resultados (fantástico!), que não houve controle e fiscalização, etc... Sabemos que a verdadeira e válida fiscalização tem que ser a do Ocidente, nomeadamente a dos EUA, que nem sequer conseguem controlar os seus actos eleitorais (sabe-se, mas faz-se de conta, por estas alturas...). Já agora, aqui ficam, após aturada pesquisa, os números: Putin (Rússia Unida), com 87,32%, Kharitonov (Partido Comunista), com 4,32%, Dvankov (Novas Pessoas), com 3,79% e Slutsky (Partido Liberal), com 3,19%. 

 

Saber hoje se a Rússia deveria ter invadido a Ucrânia, para nada interessa. Claro que foi um acto de agressão, claro que não deveria ter acontecido. O que importa é saber quem são os verdadeiros culpados e parece não haver dúvidas quanto aos altos interesses que ditaram e causaram e provocaram o acto em si. O imperialismo americano, a NATO e os “amigos” do Ocidente são os culpados, tal como o foram (e são) em todo o mundo moderno, durante o século XX e neste século XXI. Nem vale a pena citar, os exemplos são bem conhecidos e, particularmente nos Balcãs, onde ainda hoje se sentem os efeitos da destruição e da mentira da NATO e dos “aliados”.

 

A defesa deve ter um acréscimo no orçamento de Estado para, pelo menos, um percentual de 2%? Pois claro que sim, defende toda a Direita. E aqui não há qualquer distinção, para um campo alargado que vai desde o Partido, dito Socialista ao extremo da Direita. É um peso imenso, alicerçado na manipulação grosseira e na submissão abjecta. Um ouvinte do fórum TSF diria, em linguagem muito simples, que deveria investir-se na defesa, sim, na defesa contra incêndios e outras catástrofes, na defesa, sim, das pessoas e dos seus parcos bens. 

 

Mas, como é evidente, nada disso interessa, quando estamos perante mais uma ofensiva dos senhores da guerra e dos grandes interesses do Capital, sempre contra os trabalhadores. E mais, para que sejam aqueles a pagar os desmandos de todas as guerras inúteis, para os quais a vida humana conta mesmo quase nada. Os Macrons e os Cravinhos, os Bidens e os Sunaks, algozes que mais parecem bestas de um circo romano, querem-nos convencer que os russos vêm por aí abaixo, invadir e ocupar a Europa do nosso descontentamento. Era assim mesmo que os fascistas de Salazar falavam, em Portugal, é bom que ninguém se esqueça disso.

 

Esteja que estiver à frente da Rússia. Hoje é Putin, um personagem nada simpático, que representa um poder capitalista, igual a tantos outros. Outro qualquer que lá estivesse, daria o mesmo efeito, tão forte que é a vontade de destruir um País, que é afinal um País europeu.

Esta Europa incapaz e burra de tanta incompetência, nem sequer tenta levantar uma dúvida, empanturrada em tanta certeza idiota e em tanta mentira. E na famigerada supremacia, é bom que se diga. A russofobia tem os dias contados? Não sabemos. O que sabemos é que é exactamente igual a tantas outras que por aí andam, com muito ódio à mistura e com muita intolerância ao que não é branco e “puro”.

Triste tempo este.

 


11 março 2024

A DERROTA DA VITÓRIA (Que força é essa?)

Estranho dia.

Há 49 anos, o Spínola tentaria um Golpe, fugindo depois para Espanha, quando viu que não tinha hipótese, tendo causado mesmo assim alguns estragos.

Ontem, a noite haveria de produzir também estragos significativos no panorama conservador do espectro partidário em Portugal. Um partido, cujo capataz é o “homem das limpezas”, iria arrecadar o quádruplo dos votos, e consequentemente, do número de deputados. 

A campanha que as sondagens levaram a cabo para proporcionar uma “vitória” à ex-defunta AD, acabaria por mostrar, uma vez mais, para que serve “sondar”, quando na verdade o que se está a fazer é influenciar e condicionar o voto. Todavia, o erro não é casual e inscreve-se na desesperada tentativa de abrir o caminho à Direita, que ela sozinha não era capaz de fazer. A ridícula manifestação de “vitória”, que, de Pirro passaria a “tangencial”, imitando de forma pífia o futebolês, iria dar à AD, nem sequer 1 ponto percentual e apenas mais 2 deputados que o PS. A história só fica completa com a menção honrosa para o Livre, a aceitação tácita de 13 deputados para a Esquerda (BE+CDU+Livre) e a irrelevância do PAN e da própria IL, esvaziada pelo resto da Direita, mesmo apesar dos 8 deputados eleitos. Num universo de pouco mais de 6 milhões de votantes, a designada AD conseguiu mais 2 mil votos que o PS.

 

A derrota da vitória é assim o assunto do dia. Não se fica a perceber muito bem se a Direita sem o “partido das limpezas” acredita que ganhou ou se, porventura com a cabeça fria, estará provavelmente com medo de “ter ganho”. Entretanto, a agremiação racista, xenófoba e neo-fascista, que cresce à custa da insatisfação dos cidadãos com as políticas públicas do “mínimo possível”, foi devidamente promovida por comentadores e jornalistas, que agora os querem empurrar para um governo que ainda não se sabe bem como vai ser. Vejam só as declarações de Ricardo Costa (SIC-Impresa), sublinhando (antes de conhecer os resultados) que a tal agremiação, “deverá eleger entre 54 e 55 deputados, só menos 20 lugares que a AD” (na verdade, foram 48), prevendo que o capataz do grupo seria o "grande vencedor da noite".

A noite ficaria marcada ainda, como ordena a tradição burguesa, pelos salamaleques de parte a parte, entre “vencedores” e “vencidos”, ignorando olimpicamente o enorme elefante no meio da sala, com quem ninguém parece contar. Mas deve dizer-se afinal que ele se julga “essencial e necessário” para ressuscitar uma Direita anquilosada, sem ideias, sem propostas credíveis e sem um sentido que se possa levar a sério, com os 3 protagonistas que ontem sorriam, mas que rapidamente vão engolir a sua verborreia e a sua manifesta falta de credibilidade. Mas pôde constatar-se também, da parte do PS, na atitude e postura irritada e sem jeito do seu Secretário-Geral, que, uma vez mais, repetiu chavões que demonstram apenas a sua falta de adaptação a uma situação esquisita, que é, por um lado, tentar preservar a imagem de um partido que fez, durante 2 anos, o melhor favor que se pode imaginar na promoção da insatisfação generalizada e, por outro lado, tentar dar um ar novo de renovação, para trilhar um caminho diferente. Não daria certo e comprometeu o Partido e, por arrastamento, a imagem de uma Esquerda, cada vez mais acantonada. 

Assim se transforma uma vitória em derrota, um aparente oxímoro, mas que assume particular relevância, para a análise e, acima de tudo, para a acção. Talvez esteja aqui encontrada uma das virtudes de Pedro Nuno Santos, quando a evocava (a “acção”), como necessidade imperiosa. Todavia pergunta-se, que tipo de acção? Parece que, nestes dias que se seguem, a acção deve ser orientada para encontrar os porquês e procurar soluções. Na primeira vertente, há que admitir que tudo deve estar em cima da mesa, para análise e discussão. A Cidadania assim o impõe. Da mesma forma que têm de se desmontar as velhas falácias (quase todas, mentiras descaradas) como a de “não há dinheiro”, que vem dos tempos da troika, onde se dizia que o País não o tinha, para pagar salários e pensões. É sempre assim que a Direita (toda junta com a direita extrema) gosta de perorar. E, naquela situação específica, para repor a verdade, o que não havia era modo de compensar a Banca pelos seus desmandos e os grandes grupos pelos seus prejuízos, que fomos todos obrigados a pagar.

Mas não só. É preciso colocar, possivelmente como ponto primeiro, a dependência do País perante as políticas nefastas da dita União Europeia e da moeda única. Sem questionar isso, pouco se poderá adiantar. Não dizer isso aos cidadãos é incorrer na ocultação da realidade. Não dizer que são as políticas neoliberais, que transferem permanente e sistematicamente dinheiro do Trabalho para o Capital, é desrespeitar os trabalhadores, deixando-os desprotegidos. E tudo isto gera ansiedade e insatisfação. E, como bem se vê, a insatisfação gera forçosamente o aparecimento de grupos marginais que a burguesia promove a partidos, normalizando-os, mesmo sabendo que não aceitam as regras do sistema.

É mais que necessário desmontar o discurso burguês da aceitação tácita das regras estabelecidas. Antes pelo contrário, a hora é de cortar com regras que estrangulam a economia e as pessoas, particularmente aquelas que só têm a força do seu trabalho. 

Por isso, hoje, o tema musical que se impõe repassar, é este (*), que data do ano 1972, que nos interroga e incentiva: “Não me digas que não me compr'endes/Quando os dias se tornam azedos/Não me digas que nunca sentiste/Uma força a crescer-te nos dedos/E uma raiva a nascer-te nos dentes/Não me digas que não me compr'endes/Que força é essa? Que força é essa?/Que trazes nos braços?/Que só te serve para obedecer?/Que só te manda obedecer?/Que força é essa? Amigo?.

Que força é essa?

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(*) https://www.youtube.com/watch?v=-42ZiDIZ7KM


09 março 2024

 





08 março 2024

 DIA 8 DE MARÇO 2024: "LA LEGA"


Neste 8 de Março, uma canção tradicional italiana do final do século XIX, que evoca a luta das Mulheres de todo Mundo e, em particular o relato da revolta camponesa contra os patrões, quando se organizaram as primeiras organizações operárias sob a forma de “ligas”. O tema “A Liga”, integra a banda sonora do filme "1900" de Bertolucci (*), "Sebben che siamo donne/Paura não abbiamo/Por amor dei nostri figli/Socialismo noi vogliamo", ou em português, "Embora sejamos mulheres/Medo não temos/Pelo amor dos nossos filhos/É o Socialismo que queremos". 

 

O dia de hoje é dela. Ela que preenche os nossos dias, povoa as nossas cidades, sofre e luta e cala não raras vezes. Ela que é Gabriela, cravo e canela, com samba e liberdade à mistura. Ela que é Luísa, sobe a caçada de um qualquer sítio, no peso de uma existência por vezes sem sentido. Ela que pode ser Marta ou Mariazinha, conforme a disposição do companheiro, amante ou patrão. Ela a quem por vezes oferecemos flores, mas também pisamos direitos. Ela que é sistematicamente discriminada, mas a quem rendemos homenagem se corre mais depressa na pista ou se desfila na passerelle. Ela que em remotos lugares é privada dos mais elementares direitos de cidadania, ensino e educação, violentada e amordaçada. Ela que é paixão, o tal fogo que arde e que em tempos passados a queimou na fogueira, sempre em nome de grandes princípios, curiosamente ainda os mesmos que ainda hoje a diminuem e enxovalham. Ela mesmo, que é menina, com doce balanço e carinho do mar. Que pode ser deusa, princesa ou rainha, feiticeira ou puta, conforme vira o vento ou muda a sorte.

 

Para Sophia, este poderia ser um retrato para uma princesa desconhecida, para que ela fosse aquela perfeição. Numa sociedade longe de ser perfeita apela-se á igualdade de género, de mãos dadas com os perigos, enquanto outros vão à sombra dos abrigos. Nunca desiste, muitas vezes em si fechada, com alguns muros e paredes que não se vêm, a indiferença que magoa, a hostilidade que choca, muitas consciências pequenas que não querem ver o crescer do mar, nem o mudar das luas. Mas o real é a luta, sempre a luta, a vida, sempre a mesma vida, a esperança, sempre adiada. Devemos mudar o mundo, para haver mais Sophias. E porque os outros se mascaram, mas tu nãoPorque os outros se calam, mas tu não

 

Ela, a quem dedicamos um singelo dia no ano, em memória da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Hoje!

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(*) https://www.youtube.com/watch?v=p7CfYwqkVlU  

[este texto é um arranjo feito com outras peças da minha autoria, publicadas em diversos 8 de Março e tem referências expressas a António Gedeão, António Carlos Jobim, Sophia de Melo Breyner, José Mário Branco e Jorge Amado]


07 março 2024

 DIA 7 DE MARÇO 2024: "SANS LA NOMMER"




 

Escrita e interpretada por Georges Moustaki um Cidadão do Mundo, que nasceu egípcio, foi grego e francês ao mesmo tempo e Autor de letras e músicas inesquecíveis, nos anos 60 e 70 do século passado, “Sans la nommer”, de 1969, foi composta para o festival da Ilha de Wigth de 1970. Do que lá se fala e só no fim se declara, sabem-no todos os que defendem o processo revolucionário de libertação dos trabalhadores do jugo capitalista e imperialista, a Revolução Permanente: “Je voudrais, sans la nommer,/Vous parler d'elle./Bien-aimée ou mal Aimée,/Elle est fidèle/Et si vos voulez/Que je vos la présente,/On l´appelle Revolution permanente..."


Não deixa de ser sintomático que num momento muito particular de descrença na Esquerda, haja ainda quem se dedique a estudá-la e a declará-la como ideia e forma prática de pensar melhor e agir melhor, afirmando sem qualquer rebuço “A Esquerda que não teme dizer o seu nome”. Assim nos diz Vladmir Safatle, filósofo, escritor e músico brasileiro nascido no Chile, que é um jovem com a idade do nosso 25 de Abril. Este professor, considera que a Esquerda poderá ter aberto a mão aos fundamentos da sua luta política, ao ceder ao consenso, na luta pelo poder burguês, onde parece reinar um certo “conforto”. Diz-nos ainda que é pelo contacto com a arte que aprendemos a ser livres. Vale a pena citar as razões pela qual Vladimir entende que a Esquerda não deve temer dizer o seu nome, manifestando-se abertamente contra a acomodação e o esquecimento: recolocar no debate político tudo aquilo que é "inegociável": a defesa radical do igualitarismo, da soberania popular e do direito à resistência. E claro está, que tal implica a ocupação dos espaços de intervenção, nomeadamente o sindical e o das ruas e praças onde nos manifestamos contra as injustiças e as desigualdades. 

 

Reafirmamos assim que a esquerda não deve temer dizer o seu nome, na defesa daquela que, como diz Moustaki, “Bien-aimée ou mal aimée,/Elle est fidèle...”

Por isso, nestes tempos que nos surgem difíceis vamos sempre falar dela, mesmo sem a nomear.

 

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(*)   https://www.youtube.com/watch?v=hu2BF7nA_TE     


06 março 2024

DIA 6 DE MARÇO 2024: LISBOA, NÃO SEJAS RACISTA 

 

Poderia ter escolhido obras supremas para ilustrar o temas racismo, como o “Biko” do Peter Gabriel, que adiante será citado. Escolho esta, bem portuguesa e suficientemente provocatória. O tema, do Grupo Fado Bicha, tem a sua origem na conhecida canção de 1945, que a Amália cantava, com letra de José Galhardo e música de Raul Ferrão. Aqui, mantém-se a música, mas a letra deriva para a denúncia racista. Aqui se afirma, “Bastardos serão, portanto/Do Jamaica à Cova da Moura...” e se avisa “E Lisboa, não sejas racista/Cassetete fascista/É bosta e bem”. Lembramos, como é devido, o assassinato de Alcino Monteiro, cidadão português com 27 anos, interceptado no Chiado e violentamente espancado pelos skinheads, que vinham de um jantar comemorativo do Dia da Raça, como o fascismo salazarista do Estado Novo designava o 10 de Junho, hoje Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

 

Como interpretar as palavras de Gabriel, “When I try to sleep at night/I can only dream in red/The outside world is black and white/With only one colour dead”, em September '77, Port Elizabeth? Como admitir a supremacia branca, em pleno século XXI? Que, para além de semear medo e ódio, mata, quando pode. Como é possível sonhar com esta canalha por perto, a intrometer-se  na vida pacata dos cidadãos, sem sentir repúdio? Como bem diz a letra “Lisboa, na praça/Tempos maus vejo aí vindo/Pela corja do dia da raça/Que agora ri/No sofá da TVI/A falar bem do Salazar...”, para concluir o inevitável, “São opiniões, é só um nazi/Não vês mal em normalizar”.

Se existe insegurança em Lisboa, tal se deve às hordas racistas e fascistas de que são exemplos os grupos de marginais perigosos que gostam de Salazar e de outros que tal.

 

Estávamos no final da 2ª Guerra e a letra original rezava assim: “Lisboa, não sejas francesa/Com toda a certeza não vais ser feliz/Lisboa, que ideia daninha/Vaidosa, alfacinha, casar com Paris/Lisboa, tens cá namorados/Que dizem, coitados, com as almas na voz/Lisboa, não sejas francesa/Tu és portuguesa, tu és só pra nós”. Uma arenga xenófoba, inadmissível nos dias de hoje, embora pudesse ser interpretada de outra forma quando foi escrita. Hoje, devemos ter orgulho na miscigenação, na cultura do que é diferente e nos enriquece.

E atenção, ao aviso da nova letra, “Lisboa, não sejas racista/É tão quinhentista/Vê se mudas de ar”... 

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(*)    https://www.youtube.com/watch?v=kBk5Q4tpYTM


 


05 março 2024

  

DIA 5 DE MARÇO 2024: NOT IN OUR NAME (*)


 

Um dos mais tocantes temas de Charlie Haden e da Liberation Music Orchestra, com a pianista Carla Bley, é este, o primeiro do albúm que tem o mesmo nome e foi gravado em 2004. O notável contrabaixista norte-americano foi sempre um destacado interventor político, incluindo em Portugal, onde chegou a ser preso pela PIDE/DGS, em 1971, por força do seu declarado apoio aos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas. Tocou com os mais influentes músicos de jazz mundiais, a começar por Ornette Coleman e gravou, em 1990, com Carlos Paredes, o álbum Dialogues. O disco "Not in our name" foi uma manifestação contra a guerra do Iraque e contra o imperialismo americano.

não em nosso nome é pois o protesto assumido, o grito de revolta a situações iníquas, nas quais o seu País é responsável directo, nas intervenções que fez e que faz, por todo o mundo, sempre com a mesma intenção imperial e de supremacia branca que o caracteriza. Não o pode fazer em nosso nome, assim quis dizer Charlie Haden. É justo que aqui se lembre o ano de 2016 e o Guimarães Jazz, onde a Liberation Music Orchestra, dirigida por Carla Bley, prestou homenagem a Haden, que tinha falecido em 2014 e ao nosso 25 de Abril, com uma interpretação do Grândola, Vila Morena. Estivemos lá e sentimos a revolta contra os que querem falar em nosso nome.


No mês de Outubro do ano passado, activistas judeus americanos manifestaram-se pela Paz, organizando um evento de protesto no Capitólio, exigindo aos EUA que imponham um cessar-fogo imediato e justiça para os palestinianos, clamando precisamente “Not in our name”, dizendo claramente a Biden: “Como judeus americanos, estamos aqui, no meio da nossa dor para dizer ao Congresso que a nossa dor não é a sua arma e não serve de desculpa para permitir que um governo tenha intenções claramente genocidas...”

 

Sabemos o que significa falar em nosso nome. Normalmente o que acontece é que aqueles que o fazem, invocam quase sempre os interesses que defendem e os privilégios que lhes estão subjacentes. E, por ser assim, não hesitam em mentir descaradamente e em deturpar a realidade. Recorrem ainda a truques publicitários e a frases-chave que sabem antecipadamente poderem ter algum sucesso. Tenham convencer-nos, por exemplo, que todos os políticos são iguais e todos corruptos, excepto um, aquele que proclama a evidência e que dispõe de todas as soluções para todos os problemas, mesmo que sejam as mais abjectas. Falam em nome de um deus qualquer, que até pode ser ele próprio. Recorrem por vezes a terceiros, que podem até serem fontes atraentes, mas que são na verdade o eco da voz que está por trás. Não reconhecem a alteridade, porque isso escapa à sua concepção de vida e do mundo, querem apenas ser reconhecidos como porta-vozes do descontentamento e eleger-se como tal, interpretando à sua maneira a sociedade e os interesses dos que esmagam direitos e conquitas dos cidadãos.

Não lhes permitiremos que falem em nosso nome!

 

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(*)   https://www.youtube.com/watch?v=azgqN_VN5l8


04 março 2024

  

DIA 4 DE MARÇO 2024: “L'INTERNATIONALE



Nada melhor para começar a última semana antes do 10 de Março.


Esta versão da INTERNACIONAL (*), não propriamente identificada, é absolutamente fantástica e demolidora. O Hino dos Trabalhadores de todo o Mundo data de 1888, tem letra de Eugène Pottier (operário e poeta francês), e música de Pierre De Geyter(operário belga), ambos anarquistas militantes. A partir de 1896, a Internacional passa a ser o hino do Partido Operário Francês, o primeiro partido marxista em França e espalha-lhe por toda a Europa, através dos delegados estrangeiros presentes, no Congresso do Partido. Aquando da Revolução Socialista de 1917, a Internacional torna-se o Hino do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), primeiro hino do Estado Soviético (até  Estaline o abolir em 1941) e, naturalmente, o hino do socialismo internacional revolucionário: “C'est la lutte finale/Groupons-nous et demain/L'Internationale/Sera le genre humain...”. Em língua portuguesa, adaptada desta forma: “Bem unidos façamos/Nesta luta final/De uma terra sem amos/A Internacional”.


O insuspeito empresário norte-americano Henry Ford disse um dia, “Se as pessoas compreendessem o nosso sistema monetário e bancário, teríamos uma revolução amanhã de manhã.” Ora nem mais. O que parece é que “as pessoas” ainda não entenderam bem como a coisa funciona. Uma das razões que possivelmente contribui para tal é a forma como as organizações e partidos políticos que defendem os trabalhadores são tratadas pela comunicação social. Do muito que escrevemos (e que se escreveu) sobre a matéria, vale a pena salientar o excelente artigo que a Ana Drago publicou a 1 de Março no DN, a que chamou “Pode escolher a cor desde que seja laranja”. Na verdade, é curioso, diz Ana, que num país em que a esquerda tem sido maioritária desde 2015, é bizarro que as televisões privadas tenham hoje um profundo enviesamento à direita, quer no alinhamento e escolha dos temas, quer na maioria do comentário em emissão. E, no contexto pré-eleitoral, escreve a Ana, “...somaram-se painéis de análise política que tendem a ser compostos por comentadores, jornalistas e editores maioritariamente alinhados à direita, e onde figura depois um solitário jornalista/comentador mais ou menos à esquerda, que assegura o “pluralismo”. Na SIC, continuamos a ter preleções semanais e sem contraditório de um advogado com um passado na extrema-direita nacionalista e salazarista (José Miguel Júdice) e de um ex-líder do PSD (Marques Mendes). Na TVI é um ex-líder do CDS (Paulo Portas).”

 

E sobre as sondagens? Já escrevemos que valem o que valem, ponto. Mas não deixa de ser curioso que a última sondagem da Aximage, que dá o PS como vencedor com  33,1% (mais 3,5% que a AD), seja apresentada, em primeiro lugar como “empate técnico” e que seja valorizada a “subida da AD”. Na verdade e a dar como válido que ninguém se quer coligar ou fazer acordos com o partido fascista, as contas são estas: a Esquerda (PS+BE+CDU+Livre) soma 44,7% e a Direita (AD+IL+PAN) soma 35,5%. 

 

A música de hoje é muito mais que isso. Após tantos anos, mantém-se como o símbolo da LUTA CONTRA A EXPLORAÇÃO CAPITALISTA e a EMANCIPAÇÃO DOS TRABALHADORES DE TODO O MUNDO, uma LUTA INTERNACIONALISTA!

É bom não esquecer...

 

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(*)https://www.youtube.com/watch?v=mhZ8rPHezas&feature=share&fbclid=IwAR1m5s_9R7UQl9VkyY7dHM7fOxMpDkIyMOYIyEST7_bz83ZrsatvEyngKUE


03 março 2024

  

DIA 3 DE MARÇO 2024: “MONDNACHT




Em bom português, “Noite de Luar” (*) , é um tema que faz parte da obra 39 (op.39)”, um ciclo denominado Liederkreis, do compositor romântico alemão Robert Schumann do século XIX, com poema de Joseph von Eichendorff, aqui interpretada pela soprano Sophie Rennert e pelo pianista Sascha El Mouissi, considerada uma pérola da música clássica. Lembra o campo, a terra com as suas plantações ondulantes e a floresta, um idílico sonho, onde se diz que a terra está silenciosamente no brilho das flores.


Isto a propósito do sonho de um Amigo que me fala no “acordo das lezírias”. Para que fique claro, uma lezíria é um terreno plano, periodicamente alagado pelas enchentes fluviais, com uma fertilidade acima do normal e que abrange, no nosso País, largas zonas do Ribatejo e Alentejo, mais de 25 mil hectares. Importa saber ainda o que se faz, o que se produz, o que fica no país, o que vai para exportação, como se processa a exploração, quem são os trabalhadores dessas terras, como vivem e como são pagos. Tantas questões, para as quais alguém terá respostas, embora seja importante referir que nessas zonas há milho, vinha, olival e imensos prados permanentes. E, para que se saiba, é uma empresa pública que dá lucro, que se chama Companhia das Lezírias, que fica no Ribatejo e que é a maior herdade do país, com 18 mil hectares e está, desde 1975, nas mãos do Estado.


Mas o que representa então o sonho do “acordo das lezírias”? Tão só e apenas, a tentativa de reunir pessoas e organizações populares, trabalhadores, cooperativas, associações e empresas e encontrar uma forma de aumentar a produção nacional para ser a base das nossas necessidades, rever os circuitos de distribuição, erradicando de uma vez por todas o monopólio das grandes distribuidoras, que sufocam o mercado e que provocam a “morte” dos pequenos empreendimentos, cujos detentores acabam por vender os seu produtos, decerto bem melhores, por preços altíssimos. A impossibilidade prática de concorrer com as grandes superfícies, para além de ser uma evidência prática é uma das idiotices mais descaradas do neoliberalismo. Reparem só nestes exemplos do meu Amigo: por que raio é que temos que pagar a banana da Madeira (a nossa banana) ao dobro do preço de uma qualquer banana importada e de qualidade inferior? E porque é que o preço da cebola portuguesa é o dobro da congénere espanhola?  O acordo das lezírias poderia resolver os nossos problemas, os da agricultura e o da distribuição? E muitos outros? 

Se calhar, até. Porque não tentar?  

 

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(*) https://www.youtube.com/watch?v=TrUS9B0LcqY    


02 março 2024

DIA 2 DE MARÇO 2024: “ESTOU ALÉM


É a nona música do albúm “Anjo da Guarda”, do António Variações, do ano 1983, numa versão digna da grande mulher que é a Lena D´Água (*) .

Embora não consiga dominar/este estado de ansiedade”, tenho que dar a palavra a este Homem da minha terra. Nunca o cheguei a conhecer, era só 4 anos mais velho, mas morreu com 39 anos, muito provavelmente nos teríamos cruzado nas noites de Lisboa, nos anos 80, no Rock Rendez-Vous, por exemplo. O que ele sentia e transmitia, quando dizia não conseguir “compreender/Sempre esta sensação/Que estou a perder”, mas, por outro lado, uma outra (sensação), ao ter “...pressa de sair/Quero sentir ao chegar/Vontade de partir/P'ra outro lugar”. Nós não estamos noutro lugar, estamos aqui, para apreender (sempre) com os Autores, Poetas ou não. Embora nos identifiquemos com a tal ansiedade, “Porque eu só estou bem/Aonde eu não estou/Porque eu só quero ir/Aonde eu não vou”, não vamos decerto dar a mão a quem não o merece, quando podemos dá-la, isso sim, aos nossos, à nossa gente. Na canção, ele pergunta, “Mas porque é que eu recuso/Quem quer dar-me a mão”, na verdade é preciso ver quem de facto está (ou não) do nosso lado. 

A chegada à Campanha dos  2 “pesos pesados” adês, que todos conhecemos, bastará para convencer quem pensa que se pode (ou deve) dar a mão à Direita?  O de Boliqueime, que não se livra que o País lhe chame “múmia” e um dos personagens mais sujos da política internacional, que com Bush, Aznar e Blair descobriu as armas de destruição maciças do Iraque, que mentiu e ajudou a saquear, em nome do tal Ocidente e que disse ontem, elogiando Passos, "Temos de ter orgulho pelo que fizemos". Será preciso mais, para concluir da profunda e miserável aproximação à extrema-direita de uma Direita, que hoje é impossível classificar como “democrática”?

Para completar a cena de Santa Maria da Feira, fica a dita gafe do machista Melo, ao pedir "uma vitória robusta que permita ao Pedro Nuno Santos ser primeiro-ministro". Se depois disto ainda há indecisos, só podemos lembrar-lhes uns versos do Sérgio Godinho, que falam assim: “O fascismo é uma minhoca (não é? lá isso é)/que se infiltra na maçã (não é? lá isso é)/ou vem com botas cardadas/ou com pezinhos de lã”.

Sim, António, “Vou continuar a procurar/A minha forma/O meu lugar... ”! 


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(*) https://www.youtube.com/watch?v=sv628d1nt-c     


01 março 2024

O MEU DIÁRIO DE CAMPANHA


Desde hoje, dia 1 de Março até ao dia 10, este será o meu Diário de Campanha.

Tenho um saco enorme cheio de adjectivos e substantivos, coisas para dizer, protestar, reclamar, proclamar, lamentar, arengar, ironizar, provavelmente, rir e chorar.

Com firmeza e com alegria, com raiva e alguma esperança, com uma enorme sede de vitória e desejo que a nossa Esquerda finalmente compreenda a urgência de tomar o Poder, em prol da luta dos trabalhadores.

Não sou candidato, não tenho já aquela força de vir para a rua gritar. Sei entretanto que havemos de ser mais / Eu bem sei e também que Só nesta rusga / Não há lugar prós filhos da mãe. E se o Zeca assim me inspira, acrescento que a música, dele e dos outros, ajudará.

Em cada dia, uma canção, um tema clássico ou do jazz, português, espanhol, francês ou italiano, sem esquecer os blues ou o rock, a salsa ou a rumba, o samba ou a morna, os sons e as músicas do Mundo, sem esquecer a Internacional, o hino dos trabalhadores, na sua luta pela emancipação.

 

 

DIA 1 DE MARÇO 2024. “FURTHER ON UP THE ROAD

Avancemos então estrada dentro.

Este clássico dos blues, aqui (*) protagonizado por Eric Clapton e Joe Bonamassa, ajuda-nos a avançar estrada fora, como ora convém, mas com algumas cautelas. Soubemos hoje dos perigos que existem, pelo menos na zona do Ribatejo, com uma tremenda insegurança, provocada por hordes nada pacíficas. Quem o avisa, sabe do que fala e, apesar de desmentido, continua cheio de medo, clamando por hipotéticas “milícias armadas”. A gente ainda se lembra do Casqueiro, chefe de fila das direitas e “admirador confesso” da Reforma Agrária, que, apesar de morto e enterrado, parece continuar a inspirar uma tal confederação de agricultores, cheios de protagonismo e avessos a cedências.

Tenho uma outra explicação que, a ser levada em linha de conta, poderá ter algum peso na Campanha. É que a coisa coincide com a entrada na estrada de personagens que, apesar de irradiarem uma “enorme simpatia no povo português”, ainda não aqueceram os motores e podem maltratar alguém desprevenido e tal como na canção, acabar maltratado, porque afinal, avançando na estrada, vai acabar mesmo por acontecer. Isto a propósito da grande Cristas, do imenso Núncio e do fanático (perdão, fantástico) Passos. Resta apenas a dúvida, as milícias devem ser para os proteger ou para nos proteger dela, deles e de outros que ainda não apareceram mas que estão decerto para chegar? 

Ainda estamos (estou?) no primeiro dia e a fertilidade da argumentação ainda tem muito terreno a desbravar. Ou seja, há ainda muita estrada para andar. Porém, os avisos feitos na canção devem ser, digo eu, para levar a sério, olhe que hoje você está-se a rir, mas um dia você vai chorarLá mais para diante, (baby) espere e verá.

 

 

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(*) não deixes de ver, ouvir, dançar e...pensar,  ao ritmo dos blues, nesta versão ao vivo de 2012: https://www.youtube.com/watch?v=h5aVK70P88k


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